Discussão


Diferenciada do resto do Estado do Acre pela ocorrência de solos férteis, endemismos biológicos, situações geomorfológicas associadas a vários tipos de vegetação e povoamentos faunísticos, a Bacia do Rio Tejo foi ocupada tradicionalmente por populações de seringueiros. Produzindo borracha de qualidade e com boa produtividade para exploração extrativista, a população local vive, no entanto, em condições sociais próximas da miséria.

Um dos principais problemas da Bacia do Rio Tejo está relacionado com seu isolamento espacial. A grande distância que a separa das cidades mais próximas, as dificuldades de transporte e a completa inexistência de assistência médica e escolas sugerem a implantação de um programa de educação e saúde visando por exemplo o tratamento rápido para os casos de acidentes com animais peçonhentos -principalmente as serpentes- e cuidados preventivos contra a malária. Merece especial atenção o fato de aproximadamente 95,5% dos seringueiros pesquisados apresentarem sinais de doenças endêmicas, deixando-os inativos por 50 dias/ano, em média. Num sistema de extrativismo e agricultura rudimentar, onde os produtores não possuem mão de obra extra-familiar e a época de corte da seringa se restringe à estação seca, este tempo de inatividade do seringueiro representa grande prejuízo para a renda familiar, baseada fundamentalmente na venda do látex (borracha). Nota-se, nesta primeira análise dos sistemas de produção e cultivo da Bacia do Rio Tejo uma capacidade de capitalização desprezível por parte do produtor.

Diante desse quadro de pobreza, a agricultura de subsistência praticada na região poderia ser melhorada através da diversificação dos produtos, utilização de sementes selecionadas e manejos culturais adequados permitindo maior rendimento.

O baixo número de culturas frutícolas observado deve-se fundamentalmente ao isolamento das diversas colocações e habitações dos seringueiros em relação aos povoados, vilas e cidades mais próximos, dificultando a aquisição de matrizes de mudas frutíferas. A diversificação do plantio de frutas e plantas para tratamentos medicinais poderia enriquecer a alimentação do seringueiro e seus familiares através de novas fontes de vitaminas e sais minerais.

De forma semelhante, a inexistência de técnicas de manejo agropecuário e fitossanitário adequados contribui para a baixa produtividade animal observada na Bacia do Rio Tejo. O sistema rudimentar em que se encontra apoiada a pecuária regional favorece a disseminação de doenças, muito frequentes entre os animais.

Embora originária da Amazônia a Hevea brasiliensis encontrou no sudeste asiático um habitat favorável para o seu desenvolvimento. A Malásia é hoje o maior produtor de látex natural com 1,6 milhões de toneladas por ano. O Brasil produz cerca de 30 mil toneladas anuais e consome 130 mil. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Artefatos de Borracha (ABIARB), em 1990, 55% da borracha natural brasileira produzida foi proveniente de seringais cultivados. Esta tendência têm aumentado nos últimos anos e grandes grupos econômicos estão interessados em investir na heveicultura, pelo que não é difícil de imaginar o fim do extrativismo a médio prazo.

O Estado de São Paulo possue hoje cerca de 12 milhões de pés de seringa, com cerca de 15% em sangria. Este tipo de atividade, com um investimento de 12 anos, apresenta um retorno total em 6 anos e estima-se que no ano 2.000, São Paulo produzirá cerca de 40% do total brasileiro (50 mil ton). A taxa de crecimento anual está em torno a 3%, porém o país não atingirá a sua auto-suficiência (importa-se 70% da necessidade nacional), estimada em 220 mil ton para o fim do século.

Este panorama pouco alentador fornece os argumentos necessários para a implementação de políticas destinadas ao fortalecimento do extrativismo, sendo uma atividade que fixa mão de obra e não produz conseqüências indesejáveis decorrentes de ações pouco convenientes (pecuária por exemplo), na região amazônica.